por Ana Lucia Catão, Lúcia Fialho Cronemberger e Silvana Cappanari
“Se acreditamos que fazemos parte de um círculo interativo, devemos agir de acordo com essa crença”. (Harlene Anderson)
A proposta não é inédita e nem mesmo o termo, mas muito em voga hoje em dia: “Práticas Colaborativas”. Quem de nós que trabalha na área social, quer na educação, na saúde ou mesmo… não concordaria com este ensinamento de Paulo Freire: “A realidade não pode ser modificada, senão quando o homem descobre que é modificável e que ele pode fazê-lo”.
Acreditar no conceito “colaborativo” não nos parece ser o grande desafio que enfrentamos. No entanto, “ser colaborativo ou agir colaborativamente” nos parece O desafio lançado a nós profissionais, independentemente da área em que atuamos, que desejamos trabalhar, mirando este conceito.
Como podemos nos engajar numa ação que não subjugue ou domestique o outro com quem trabalhamos ou atendemos, mas permita que ele se transforme em sujeito autor de sua ação, um sujeito autônomo e comprometido com o outro e com o contexto em que vive? Como podemos criar espaço, para que os nossos saberes componham com os saberes do outro, criando novos saberes e novas realidades?
O mestre Paulo Freire já sinalizava: “É preciso […] antes de tudo provocar uma atitude crítica, de reflexão, que comprometa a ação” (pg 40 do livro Conscientização). Aqui, parece-nos, cabe um adendo: desenvolver uma atitude crítica, de reflexão, não só em relação à realidade externa a nós, mas, acima de tudo em relação a nossa postura enquanto pessoa e profissional. Olhar para como faço o que faço, como me relaciono com os outros, pares e clientes, faz toda a diferença na minha ação …
Entendemos “práticas colaborativas” como “conhecer e fazer junto com” e para isso não precisamos ser necessariamente profissionais que fazem com outros profissionais, mas também profissionais que fazem com clientes ou com quem quer que seja, desde que se proponham a descobrir juntos formas confortáveis para todos e significados comuns do que estão conhecendo e fazendo juntos.
É no processo conversacional que vamos construindo conhecimento e práticas com os outros (pares e ou clientes). O importante é que, nesse processo de conversas e trocas, cada um tenha voz e vez no trabalho em conjunto e que possa, através de um tempo para reflexões individuais, encontrar significados comuns e soluções para mudanças.
Essa prática exige dos envolvidos sair do conforto do saber e das certezas para a instabilidade do não saber abrindo espaço para a curiosidade e a possibilidade de um novo conhecimento no encontro com o outro e consigo mesmo…
Nesta prática ambos, profissional e cliente, necessitam redefinir suas posturas, saberes e poderes. Não cabe ao profissional, ou profissionais, definir e ou determinar à revelia o que é o “melhor” para o outro, seu cliente.
O profissional se relaciona com os seus pares e clientes como colaborador de um processo, o seu saber “específico”, ”cientifico”, alimenta e compõe a circularidade da comunicação, o que permite e ou favorece a criação de novos conhecimentos e mudanças desejadas naquele e por aquele sistema.
Neste momento, estão em alta diversas práticas que podem ser consideradas colaborativas. Dentre elas, a terapia colaborativa, a advocacia colaborativa, as equipes colaborativas no divórcio, a mediação de conflitos, as práticas restaurativas, os processos conversacionais etc. Se algumas têm no nome a ideia de colaboração, nem sempre a prática corresponde à proposta.
Para pensar o que essas práticas têm de especifico que as tornam colaborativas, propomos uma reflexão. O que você faz, ou precisa fazer, para estabelecer uma relação de colaboração com alguém? Quando você sente que está colaborando?
São Paulo, novembro de 2014.